quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

 UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!


Chove. É Dia de Natal
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!


                                                 Retrato de Florbela Espanca

AMAR!

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!



Dia de Natal


Hoje é dia de Natal

Mas o menino Jesus

Nem sequer tem uma cama,

Dorme na palha onde o pus.


Recebi cinco brinquedos

Mais um casaco comprido.

Pobre menino Jesus,

Faz anos e está despido.


Comi bacalhau e bolos,

Peru, pinhões e pudim.

Só ele não comeu nada

Do que me deram a mim.


Os reis de longe trazem

Tesouros,incenso e mirra.

Se me dessem tais presentes,

Eu cá fazia uma birra.


Às escondidas de todos

Vou pegar-lhe pela mão

E sentá-lo no meu colo

Para ver televisão.

                   Luísa Ducla Soares

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

 PAREDES QUE FALAM!






 UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!


Intermezzo

Hoje não posso ver ninguém:
sofro pela Humanidade.
Não é por ti.
Nem por ti.
Nem por ti.
Nem por ninguém.
É por alguém.
Alguém que não é ninguém
mas que é toda a Humanidade.


António Gedeão

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!



Miguel Torga, por Bottelho

Natal

Soa a palavra nos sinos,
E que tropel nos sentidos,
Que vendaval de emoções!
Natal de quantos meninos
Em nudez foram paridos
Num presépio de ilusões.

Natal da fraternidade
Solenemente jurada
Num contraponto em surdina.
A imagem da humanidade
Terrenamente nevada
Dum halo de luz divina.

Natal do que prometeu,
Só bonito na lembrança.
Natal que aos poucos morreu
No coração da criança,
Porque a vida aconteceu
Sem nenhuma semelhança.

Miguel Torga, Coimbra, Natal de 1974

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!

Natal


Hoje é dia de Natal.

O jornal fala dos pobres

em letras grandes e pretas,

traz versos e historietas

e desenhos bonitinhos,

e traz retratos também

dos bodos, bodos e bodos,

em casa de gente bem.

Hoje é dia de Natal.

- Mas quando será de todos?

                             Sidónio Muralha (28/07/1920 - 08/12/1982)





 UM POEMA POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!

Conceição
Para se namorar do que criou,
Te fez Deus, sacra Fénix, Virgem pura.
Vede que tal seria esta feitura
Que para si o seu Feitor guardou!
No seu alto conceito Te formou
Primeiro que a primeira criatura,
Para que única fosse a compostura
Que de tão longo tempo se estudou.
Não sei se digo em tudo quanto baste
Para exprimir as raras qualidades
Que quis criar em Ti quem Tu criaste.
És Filha, és Mãe e Esposa: e se alcançaste,
Uma só, três tão altas qualidades,
Foi porque a Três de Um só tanto agradaste.
Luís Vaz de Camões
(Pintura de Diego Velázquez, c.1619)


 Falavam-me de Amor


Falavam-me de Amor
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia, in 'O Dilúvio e a Pomba'





quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Paços e Passagens - Podcast

Com o intuito de divulgar e incentivar leituras, continuamos a participar na iniciativa Paços e Passagens. Neste episódio podemos apreciar a leitura de um excerto da obra “A Lua de Joana” de Maria Teresa Maia Gonzalez, pela voz de Ana Corsi do 9.º F.

Boas Leituras!☺

https://open.spotify.com/episode/2oA0Vaqn3rxNebZyzPCPuU





quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Dia Internacional das Bibliotecas Escolares-24 de outubro

https://open.spotify.com/episode/4OB2oL8UF3081avbSk4YL7?si=VKOfHaEaQK2z0psk-MVtAw 


Para assinalar o dia da Biblioteca Escolar, 24 de outubro, a rede de bibliotecas escolares de Paços de Ferreira, partilhou a leitura, de diferentes textos, pela voz de vários jovens das escolas deste concelho. Leituras para a Paz e Harmonia Globais!

Lara Coelho, aluna da Escola Básica de Frazão, leu o "Discurso de Malala Yousafzai" proferido nas Nações Unidas em 2013.